A imprescindibilidade da realização de ensaios e testes periódicos em elevadores

Por Cláudio Henrique Guisoli

Nas inspeções de rotina mensais é avaliado o estado de conservação de equipamentos diversos de elevadores. Entretanto, as inspeções de rotina não são suficientes para garantir a confiabilidade operacional de equipamentos de segurança essenciais nos elevadores, por exemplo, limitador de velocidade, freio de segurança, freio eletromecânico da máquina de tração entre outros. Infelizmente, fatos recentes comprovam casos de acidentes, até fatais, em que a manutenção preventiva mensal estava sendo feita regularmente, mas equipamentos de segurança não atuaram quando requerido.

Ao comprar um veículo, o adquirente recebe juntamente com o veículo o manual do proprietário. No manual constam as revisões e suas periodicidades, que devem ser observadas para manter o carro em bom estado de conservação e seguro. Assim, como veículos passam por revisões periódicas estabelecidas pelos fabricantes, também os elevadores têm de passar por inspeções e ensaios periódicos no decorrer da vida útil, conforme estabelecido por normas técnicas da ABNT, de modo a comprovar a condição operacional segura dos equipamentos.

Quando e em quais circunstâncias os elevadores devem passar por inspeções ou ensaios periódicos?

Não temos uma norma técnica ABNT específica a respeito de ensaios periódicos para elevadores elétricos de passageiros. A norma ABNT MB 130:1955 “Inspeção Periódica de Elevadores e Monta-Cargas” foi cancelada no ano de 2009, e até a presente data não foi publicada outra norma ABNT para substituí-la, apesar da importância fundamental que tal assunto requer. Entretanto, a norma ABNT NBR NM 207 estabelece em que circunstâncias e a quais ensaios os elevadores devem ser submetidos, apesar de não entrar em pormenores de como realizar as inspeções e ensaios.

Inspeções e ensaios periódicos em elevadores recém instalados

Devem ser realizadas inspeções e ensaios periódicos nos elevadores depois que eles tiverem entrado em serviço para verificar se estão em condições operacionais seguras. Essas inspeções e ensaios periódicos devem ser realizados conforme “Anexo E” da norma pertinente.

Inspeções e ensaios depois de modificações relevantes ou depois de um acidente

Inspeções e ensaios devem ser realizados depois de modificações relevantes ou depois de um acidente para assegurar que o elevador continua a atender a norma. As inspeções e os ensaios devem ser realizados conforme “Anexo E”.

Em particular, são as seguintes as modificações importantes:

Troca:

  • da velocidade nominal;
  • da carga nominal;
  • da massa do carro;
  • do percurso do carro;
  • do tipo do dispositivo de travamento da porta de pavimento (a substituição de um dispositivo de travamento por um do mesmo tipo não é considerada como uma modificação importante).   

Troca ou substituição:

  • do sistema de controle;
  • das guias ou do tipo de guias;
  • do tipo de porta (ou a adição de uma ou mais portas da cabina ou de pavimento);
  • da máquina ou da polia motriz;
  • do limitador de velocidade;
  • do para-choque;
  • do freio de segurança.

Estes ensaios serão, no máximo, aqueles requeridos para os componentes originais antes da entrada do elevador em serviço.

Inspeções e ensaios periódicos no decorrer da vida útil dos equipamentos

Inspeções e ensaios periódicos não devem ser mais exigentes que aqueles requeridos antes do elevador entrar em serviço. Estes ensaios periódicos não devem, através de sua repetição, causar excessivo desgaste ou impor tensões que possam diminuir a segurança do elevador. Em particular, este é o caso de ensaio de componentes como o freio de segurança e para-choque. Se forem feitos ensaios nesses elementos, eles devem ser realizados com a cabina vazia e velocidade reduzida. A capacidade desses elementos foi verificada durante os ensaios de tipo. Além disso, sua montagem correta e operação foram verificadas nos ensaios feitos antes da entrada em serviço. A pessoa indicada para fazer o ensaio periódico deve assegurar-se de que esses componentes (que não operam no serviço normal) estejam sempre em condições operacionais.

As inspeções e os ensaios devem incidir sobre:

  • os dispositivos de travamento;
  • os cabos de suspensão;
  • o freio eletromecânico. Se os componentes do freio são tais que no caso de falha de um deles o outro não é suficiente para frear o carro, uma inspeção detalhada deve ser feita nos cubos, pivôs e articulações para assegurar que não há desgaste ou acúmulo de pó afetando sua satisfatória operação;
  • o limitador de velocidade;
  • o freio de segurança ensaiado com cabina vazia e a velocidade reduzida;
  • os para-choques (tipo dissipação de energia) devem ser ensaiados com cabina vazia e a velocidade reduzida;
  • o dispositivo de alarme.

No mercado de manutenção de elevadores a rotatividade das empresas é elevada, principalmente por motivo de insatisfação dos proprietários e síndicos quanto à qualidade do serviço apresentado e para redução de custos. Entretanto, a inspeção inicial para assumir a manutenção de novos elevadores na carteira é, geralmente superficial, obscurecendo problemas graves que podem resultar em acidentes, por vezes até fatais. Portanto, a empresa de manutenção ao invés de estar agregando um ativo interessante à sua carteira de clientes, na realidade pode estar assumindo uma instalação potencialmente perigosa do tipo “bomba relógio”.

O que temos visto é que a grande maioria das empresas tem suprimido a inspeção inicial criteriosa e corrido o risco da possibilidade de um acidente e, nesse caso, terá de assumir os ônus dos problemas que, em princípio, eram de responsabilidade da empresa anterior, mas que se tornaram seus assim que assumiram a manutenção.

O ideal é que os serviços de inspeção anual sejam realizados por empresa independente, por exemplo, uma consultoria técnica independente, sem quaisquer vínculos com a empresa mantenedora. A inspeção inicial é de grande importância, principalmente em caso de elevadores que entram na carteira sem qualquer histórico de manutenção da empresa anterior, o que frequentemente acontece no setor de elevadores.

A maioria das capitais e as grandes cidades interioranas do Brasil possuem legislação específica que obrigam as empresas mantedoras a apresentar anualmente o RIA – relatório de inspeção anual – para atestar a segurança operacional dos elevadores sob assistência técnica de cada empresa.

Nas localidades onde o RIA é obrigatório, geralmente, as empresas de manutenção incluem em seus contratos de prestação de serviços a obrigatoriedade de realização da inspeção inicial e assumem o ônus da realização da inspeção anual que irá gerar o RIA de cada elevador.

Com a concorrência predatória no mercado de elevadores e o valor do ticket médio cada vez menor, é praticamente impraticável assumir o ônus da realização de uma inspeção anual criteriosa e/ou assumir a responsabilidade técnica de instalação da concorrência, sem cobrar o valor devido pela execução dos testes e ensaios, que requerem pessoal técnico especializado, tempo e equipamentos.

Não existe uma padronização do check-list dos itens a serem verificados e ensaiados nas inspeções anuais. Portanto, cada empresa relaciona os itens que julga serem importantes e/ou pertinentes, o que faz com que algumas empresas avaliem muitos, outras pouco e ainda outras quase nenhum.

Como conclusão, a realização da inspeção anual requer pessoal técnico qualificado e, além disso, literatura técnica especializada para elaboração dos procedimentos técnicos que serão utilizados no decorrer de cada inspeção anual. Recomendo o “Manual de ensaios de componentes de elevadores”, um excelente trabalho do nosso colega engº Francisco Thurler Valente, que será, sem dúvida, de grande utilidade para as empresas mantenedoras de elevadores.

Sobre o autor

Cláudio Henrique Guisoli, engenheiro industrial mecânico graduado pelo CEFET-MG, diretor da empresa “Vertical Consultoria”, escritor, palestrante, instrutor em treinamentos gerenciais e técnicos, secretário do grupo de trabalho da ANBT em BH do projeto da norma de inspeções e ensaios em elevadores elétricos de passageiros, com experiência de 35 anos no setor de transporte vertical de passageiros. Contatos: (31) 3337-9695 ou (31) 99795-3618 – E-mail: guisoli@uol.com.br  

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