Correntes e cabos de compensação: Função e manutenção

Por Engº Rodrigo Antonio da Silva

Nos últimos 12 meses tenho encontrado uma grande variedade de problemas nas correntes e cabos de compensação de elevadores vistoriados. Acredito que não seja algo pontual, por isso comecei a pesquisar a bibliografia sobre esse importante dispositivo e percebi que a informação é escassa, quase que não existe, então preparei este artigo para auxiliar no conhecimento sobre esses componentes importantes aos elevadores.

A compensação de peso em elevadores é feita por meio do contrapeso e o uso de correntes (comum ou cadeia de elos) ou cabos (de aço) de compensação. Para que o conjunto de tração exerça o menor esforço possível (mecânico e elétrico), é necessário que no projeto, na fabricação e na instalação do elevador seja considerada a regra de que deve haver um equilíbrio entre as cargas (peso da cabina e o peso do contrapeso).

O primeiro passo para proporcionar essa condição de equilíbrio é calcular a carga no contrapeso de forma que ele pese o equivalente ao peso da cabina, somando-se a metade da sua capacidade de carga.

Exemplo de cálculo de massa de contrapeso:

Cálculo de massa em kg
Peso da cabina (PC)1000
Capacidade de carga da cabina (CCC)600
Contrapeso (CP) = PC+(CCC/2)1300

A conferência do equilíbrio entre as massas (balanceamento estático) é feita após a conclusão da montagem ou modernização de elevadores, posicionando a cabina (com metade da sua carga) no mesmo nível do contrapeso e soltando-se o freio da máquina. Nessa situação, não deve haver deslocamento involuntário do elevador em qualquer um dos sentidos.

Sempre que ocorrer alteração do peso da cabina, por qualquer motivo (reforma estética, troca de operador de portas, entre outros) o balanceamento estático deve ser refeito para verificar a necessidade de correções.

Porém em elevadores de percurso mais alto (em geral, superior a 30 m) ou elevadores de carga que possuem cabos de tração mais pesados, esse peso provoca um desequilíbrio entre cabina e contrapeso quando a cabina está posicionada nos extremos do percurso.

Exemplo de cálculo de necessidade de instalação de dispositivo de compensação:

Cálculo de massa dos cabos em kg 
Quantidade de cabos (Q)4 
Percurso do elevador entre extremos (M)49 
Peso de 1 metro de cabo de aço (D)0,56 
Peso dos cabos (P) = Q x M x D109,76 
Diâmetro do cabo em polegadasPeso aproximado em kg/m
3/8″0,315
1/2″0,560
5/8″0,880

Quando o resultado dos cálculos (P) for maior que 70 kg, deve ser instalado um dispositivo de compensação (correntes ou cabos de aço) conectado embaixo da cabina e embaixo do contrapeso para contrabalançar o peso dos cabos de tração. Em alguns casos a fixação é feita entre contrapeso e parede da caixa de corrida, não sendo conectada embaixo da cabina. Nos casos em que a velocidade nominal do elevador for maior que 3,5 m/s, devem ser utilizados cabos de compensação.

Ilustração da posição da compensação

Ocorre que essa instalação deve obedecer a critérios construtivos e a manutenção deve ser bem executada ao longo dos anos, de forma que a vida útil dos componentes seja a maior possível.

O revestimento e a corda das correntes têm função na diminuição de ruídos e no aumento da segurança nos casos em que haja o rompimento de elos, sendo que o revestimento auxilia também na conservação do conjunto. Os tipos usuais de compensação mais comuns são:

Cabo de compensação
Corrente em corda interna aos elos composta de fibra sintética ou natural
Corrente revestida

É comum vistoriar elevadores que possuem ou deveriam possuir dispositivos de compensação, porém a instalação não é verificada, ou apresentam problemas, tais como falhas de instalação e/ou manutenção e/ou conservação.

A instalação de cabos e correntes de compensação

É recomendado pela maioria dos fabricantes que haja dois pontos de fixação ou ancoragem das correntes de compensação, seja do lado do contrapeso, seja do lado da cabina. O segundo ponto de fixação pode ser similar ao primeiro, desde que haja um seio ou alça de segurança, sendo utilizado nos casos em que ocorra o tensionamento excessivo da mesma.

Ilustração dupla ancoragem

A seguir, um exemplo no qual houve o excesso de tensionamento e a ancoragem chegou a romper, porém a alça de segurança atuou evitando o desprendimento da corrente e sua queda sobre a cabina, o que poderia provocar um grave acidente.

Ancoragem rompida. Uso da alça de segurança

Nos casos de aplicação de correntes de compensação revestidas, é recomendada a instalação de guias no fundo do poço para garantir o alinhamento do conjunto.

Exemplos de guias de correntes

Manutenção de cabos e correntes de compensação

Diversos problemas podem ser identificados e corrigidos quando se trata de dispositivos de compensação, sendo que a manutenção preventiva ainda é a maior ferramenta. Em geral uma pequena intervenção, como regulagem de altura ou lubrificação apropriada, tem o efeito desejado e evita maiores transtornos ou necessidade de uma manutenção corretiva pesada.

As correntes de compensação podem apresentar problemas como oxidação, deformação, torção, rachaduras, desgaste ou corrosão de elos, danos no revestimento ou nas cordas, que fazem com que gerem ruídos e “trancos” durante a viagem do elevador. Nesses casos é necessária manutenção corretiva.

Exemplos de problemas em correntes

Nos casos em que há falta de manutenção dos rolos de guia das correntes no fundo do poço, eles chegam a travar e desgastam o revestimento da corrente, podendo até prender e provocar incidentes. Para isso a manutenção preventiva é necessária, com verificação mensal e lubrificação, quando necessária.

Rolo guia travado. Desgaste do revestimento

É necessário lembrar que deve haver uma distância mínima de segurança entre o dispositivo de compensação e o fundo do poço, evitando que o formato natural do seio da corrente de compensação deforme e provoque danos ao elevador ou até acidentes em casos extremos.

Exemplos de corrente raspando no poço 

Há casos em que a lubrificação é necessária, porém é recomendada a limpeza prévia antes da aplicação do lubrificante e é recomendável que a corrente não esteja tensionada durante a lubrificação.

Exemplos de lubrificação

Já nos cabos de compensação, é necessário conferir o tensionamento individual de cada cabo de aço e coletivo (de acordo com a variação da altura da polia tensora do fundo do poço), assim como a instalação e funcionamento do contato elétrico de segurança e afrouxamento dos cabos instalado na polia tensora, itens geralmente verificados durante a manutenção preventiva.

Conclusão

As correntes e cabos de compensação são componentes tão utilizados quanto as corrediças de guias ou cabos de aço em um elevador, porém sua manutenção deve receber maior atenção, dada sua importância para a eficiência energética em elevadores. Especificar, adquirir e instalar corretamente faz parte do processo de fornecimento de elevadores. A manutenção preventiva é essencial e faz com que a vida útil dos componentes do elevador seja a maior possível.

Fazer a conferência do balanceamento estático entre cabina e contrapeso deve ser parte integrante do processo de modernização dos elevadores sempre que houver mudança nas características originais da cabina ou dispositivos de tração. Inspecionar periodicamente as correntes, cabos de compensação e seus componentes de fixação, guias e tensionamento deve ser parte integrante do plano de manutenção de elevadores e assim ser seguida pela empresa mantenedora dos elevadores.

Bom trabalho e mãos à obra!

Sobre o autor

Engº Rodrigo Antonio da Silva
REG. CREA-SP: 5060243204
Site: www.consultoriaelevadores.com.br

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