Por Eng. Cláudio Henrique Guisoli
As atividades dos técnicos de elevadores, como instalação, manutenção, reparação e modernização implicam na exposição de riscos cotidianamente, sendo um fator de análise importante para as empresas. Isso porque, na eventualidade de acontecer algum acidente, os danos para as empresas podem ser diversos. Dentre eles, maculação de sua imagem no mercado, prejuízos com indenizações (sujeito até a falência dependendo do porte da empresa), efeitos psicológicos nos outros trabalhadores e, sobretudo, consideração do lado humano, pois o valor de uma vida não tem preço.
Em levantamento realizado na região metropolitana de Belo Horizonte, de outubro de 2007 até setembro de 2020, obteve-se os seguintes dados: ocorrem 42 acidentes com elevadores, sendo 39 vítimas. Dentre os acidentes, nove (21,42%) foram com técnicos. Portanto, acontece um acidente a cada 3,7 meses e uma morte a cada 11,2 meses. No período descrito, foram 14 mortes, entre usuários e técnicos de elevadores. É importante ressaltar que se trata apenas de uma amostragem, considerando artigos veiculados na mídia, denúncias ao CREA-MG e divulgações por técnicos de empresas mantenedoras, ou seja, provavelmente ocorreram mais acidentes no período que não foram computados nesse levantamento.
Os dados evidenciam que o trabalho invisível dos técnicos de elevadores é uma atividade que implica riscos, que podem provocar acidentes, na maioria dos casos fatais.
Os principais riscos inerentes das atividades diversas com elevadores são:
- Preso entre objetos em movimento;
- Contato com fonte de energia perigosa (figura 1);
- Golpeado por objetos em movimento ou golpear um objeto (figura 2);
- Escorregar/Cair/Tropeçar;
- Esforço excessivo: distensão ao realizar uma tarefa;
- Exposição a cantos vivos, substâncias ou condições perigosas.
Quanto às causas, os acidentes de trabalho são classificados como “ato inseguro” ou “condição insegura” de acordo com a norma ABNT NBR 14280:2001 – “Cadastro de acidente de trabalho – Procedimento e classificação”.
CONDIÇÃO INSEGURA: nos locais de serviço, são aquelas que compreendem a segurança do trabalhador. Falhas, defeitos, irregularidades técnicas e carência de dispositivos de segurança que colocam em risco a integridade física e/ou a saúde das pessoas e a própria segurança das instalações e equipamentos.
Exemplos de condições inseguras:
- Ausência de guarda-corpo no topo do carro;
- Ausência de proteção dos equipamentos rotativos “polias”: de tração, de desvio, de suspensão, do limitador de velocidade, da polia tensora, entre outras;
- Ausência de escada de acesso ao poço;
- Desníveis na casa de máquinas sem sinalização e/ou sem escada;
- Ausência de iluminação na caixa de corrida;
- Iluminação insuficiente na casa de máquinas;
Condições inseguras devem ser eliminadas através da instalação de equipamentos previstos por normas da ABNT (associação brasileira de normas técnicas). Entretanto, enquanto as condições inseguras perdurarem devem ser tomadas medidas para minimizá-las, por exemplo, no caso do topo do carro sem guarda-corpo deve-se usar o cinto limitador de distância.
A norma ABNT NBR 15597:2010 “Elevadores – Requisitos de segurança para a construção e instalação de elevadores – Elevadores existentes – Requisitos para a melhoria da segurança dos elevadores elétricos de passageiros e elevadores elétricos de passageiros e cargas”, em sua Tabela 1 – Lista de perigos significativos –, indica medidas a serem tomadas para eliminar riscos, ou quando não for possível, reduzir riscos a níveis toleráveis.
ATO INSEGURO: é todo ato consciente ou não, capaz de provocar algum dano ao trabalhador, aos seus companheiros ou equipamentos, estando diretamente relacionados a “falha humana”. É a maneira como as pessoas se expõem consciente ou inconscientemente a riscos de acidentes. São esses os atos responsáveis pela maioria dos acidentes de trabalho atualmente.
Exemplos de atos inseguros:
- Trabalhos em altura sem utilizar cinto de segurança;
- Brincadeiras, brigas ou correrias no local de trabalho;
- Trabalhador com sono operando o elevador;
- Trabalhador que se recusa a usar o EPI (equipamento de proteção individual);
- Trabalhador operando o elevador com atenção dispersa por conversas;
- Fazer uso de bebidas alcoólicas ou qualquer substância entorpecente no local do trabalho.
Observa-se que, nessa categoria de causa, sobressai o recurso humano envolvido no trabalho e alguns aspectos psicológicos. Como exemplo para discutir o manejo desses aspectos, pode-se citar a estatística obtida no setor de aviação. Isso porque, no setor de aviação existe a obrigatoriedade da investigação e da documentação dos resultados de todos os acidentes ocorridos com aeronaves no território nacional, de modo a obter-se dados para a redução da possibilidade de ocorrência de acidentes semelhantes no futuro. Para efeito de exemplo vide o gráfico a seguir.
Deficiência | Exemplos do que acontece no setor de elevadores |
Pouca experiência | Em virtude da escassez de mão de obra: pessoas são contratadas para a função de técnicos de elevadores, sem qualquer experiência, sendo em muitos casos enviadas ao campo sem o treinamento necessário. |
Complacência | Técnicos se sujeitam a trabalhar em condições adversas sem EPIs (equipamentos de proteção individual) e sem terem recebido a instrução mínima para as atividades que realiza. |
Treinamento | A ausência de treinamentos ou escopos de treinamentos incompletos ou inadequados é uma realidade. A ausência de certificação dos técnicos em segurança, além de incorrer em risco de acidentes, pode produzir fatos para demandas judiciais futuras. |
Falta de percepção | A percepção para julgar uma condição insegura de trabalho, além de ser proporcionada pelos treinamentos de segurança, também é inerente ao perfil psicológico de cada técnico. Um técnico que tenha raciocínio lento diante de uma situação de risco iminente tende a retardar sua ação o que pode ocasionar um acidente. |
Exceção de confiança | O excesso de confiança na realização de uma tarefa, muitas vezes burlando procedimentos de segurança, ocorre no dia a dia da manutenção. Geralmente técnicos mais experientes são vítimas fatais em caso de acidentes, por considerarem que já fizeram um determinado procedimento inseguro por inúmeras vezes e nunca ter ocorrido um acidente. |
Descaso com normas e procedimentos | Desconhecimento de normas técnicas e ausência de POP (procedimentos de operação padrão) para a execução de tarefas. |
Cultura do grupo de trabalho | Técnico(s) de um grupo de trabalho induzindo colegas a fazerem atividades sem ATP “análise de perigo de tarefa” e/ou sem seguir o POP (procedimentos de operação padrão). |
Desatenção | Utilização de smartfones no decorrer da realização de tarefas de manutenção, infelizmente se tornou condição corriqueira no dia a dia da manutenção: risco alto de acidente. |
Conclusão
Conclui-se, então, que apesar dos acidentes com técnicos de elevadores serem recorrentes, podem ser evitados através de ações proativas das empresas de elevadores.
Quanto às Condições Inseguras, tem-se que eliminar ou ao menos minimizar os riscos de acidentes de trabalho a níveis toleráveis, cuja obrigação é das empresas de elevadores, através da certificação da sua mão de obra com treinamentos técnicos e de segurança, assim como com o fornecimento de EPIs (equipamentos de proteção individual) e a conscientização dos clientes de sua carteira para adquirir EPCs (equipamentos de proteção coletiva), por exemplo, guarda-corpo para o topo do carro.
No que se refere aos Atos Inseguros, é interessante ressaltar, apesar de não haver uma sistematização de dados na área de elevadores diretamente quanto a isso, que existem uma série de fatores humanos que precisam ser levados em consideração no cuidado com os riscos. Dessa forma, podemos supor que o perfil psicológico de cada funcionário influencia diretamente em suas reações a situações de risco, o que pode evitar ou mesmo ocasionar um acidente.
Na próxima edição da Revista Elevador Brasil, daremos continuidade a esse artigo falando sobre os perfis psicológicos dos trabalhadores e a influência do estresse no trabalho dos técnicos de elevadores.
SOBRE O AUTOR
Cláudio Henrique Guisoli, engenheiro industrial mecânico graduado pelo CEFET-MG, diretor da empresa Vertical Consultoria, escritor, palestrante, instrutor em treinamentos gerenciais e técnicos, secretário do grupo de trabalho da ABNT em BH referente ao projeto da norma de inspeções e ensaios em elevadores elétricos de passageiros, com experiência de 35 anos no setor de transporte vertical de passageiros.
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