Elevadores sem casa de máquinas: realidade! Mas qual o futuro de sua manutenção?

Por Eng.º Marcelo Nascimento

Os equipamentos sem casa de máquinas se tornaram uma realidade pelo país afora, tem sido cada vez mais comum encontrar projetos e instalações onde os mesmos são aplicados. Apenas ratificando, neste tipo de instalação, os componentes que estariam na casa de máquinas (máquina, limitador, comando), ficam na projeção superior da caixa de corrida (o espaço da maquinaria) e no batente da porta do último pavimento superior (o gabinete da maquinaria).

A principal vantagem é um aproveitamento máximo dos espaços no último pavimento da edificação, e quando já se está no limite do plano diretor da cidade, torna-se uma opção versátil para o projeto arquitetônico, possibilitando construir mais um pavimento tipo ou até áreas de laser, reduzindo ainda os custos e o tempo de construção. E num cenário de tanta competitividade comercial entre empreendimentos, e no próprio rateio das despesas condominiais, pois edifícios com estrutura similar podem ter, 4, 6 até 8 unidades autônomas a mais, o que pode fazer toda a diferença entre uma edificação e outra.

Outra vantagem é facilitar a adequação de edificações existentes, onde não existem equipamentos de transporte vertical originalmente, justamente por essa característica de não requererem o espaço para a casa de máquinas. Inclusive, muitos projetos consideram estruturas autoportantes que se “conectam” a edificação; uma solução brilhante!

Esquema de montagem (meramente ilustrativo, não considerar as medidas como referência): elevador com casa de máquinas (esq.) e sem casa de máquinas (dir.)

É verdade também que os elevadores sem casa de máquinas ainda têm limitações na sua aplicação, especialmente quantidade de paradas a serem atendidas, mas certamente não tarda para as engenharias de pesquisa e desenvolvimento darem novos passos nesse sentido. Como já é notório o avanço tecnológico dos equipamentos atuais, com comandos reduzidos, cada vez mais slim, assim como das máquinas de tração, muito eficientes, com peso e tamanho muito menores que as tradicionais.

Mas existem também algumas perguntas a serem respondidas. Uma delas, tem relação com o fato de o último pavimento dos empreendimentos, especialmente aqueles mais nobres, serem mais valorizados, via de regra. Qual será a percepção dos futuros compradores ou moradores dessas tão cobiçadas unidades autônomas, ao perceberem que este tipo de equipamento irá requerer que, ao menos em parte do tempo, as manutenções – preventivas e corretivas, sejam executadas à sua porta? Por mais confiáveis que sejam, em algum momento, esse cenário de equipe técnica, ferramentas e peças de reposição, estará justamente no hall de acesso principal do(s) apartamento(s).

No tocante aos serviços de manutenção e reparos, especialmente os não rotineiros, para médio e longo prazo, nos parece também que existem perguntas a serem respondidas, em função das restrições de acesso aos conjuntos que são instalados no espaço da maquinaria e, especialmente, às soluções para resgate de passageiros retidos na cabina.

Não há dúvidas que, ao menos na maioria dos casos, os elevadores sem casa de máquinas instalados estão providos de soluções eficazes, especialmente para o resgate de passageiros retidos na cabina, em casos de falta de energia elétrica ou até falhas, tanto para nivelar a cabina com a presença do técnico permitindo o desembarque seguro do passageiro, quanto redundâncias tipo no-break, que movimentam a cabina automaticamente. Porém, justamente pensando em redundâncias é que refletimos: não seria conveniente ter uma redundância que dependesse exclusivamente de ação mecânica? Como temos nos tradicionais elevadores com casa de máquinas, alavancas para alívio do freio, por exemplo.

Inclusive, considerando a previsão da ABNT NBR 16042 – Elevadores elétricos de passageiros – Requisitos de segurança para construção e instalação de elevadores sem casa de máquinas, válida a partir de 03.04.2013, em seu item 5.2.2.1:

Portas de inspeção, portas de emergência e portinholas de inspeção da caixa não podem ser utilizadas, exceto se a segurança dos usuários o exigir ou se forem necessárias para manutenção.

E quando seriam aplicáveis essas exceções de segurança e manutenção?

Evidente que estamos adentrando numa discussão complexa, que não tem soluções de simples aplicação. Tão quanto, necessária, visto que teremos cada vez mais equipamentos, a julgar pelo sucesso atual. Basta nos deixarmos levar pelas nossas experiências, inclusive nos elevadores com casa de máquinas, e buscar projetar atividades que, se não executamos diariamente no mesmo elevador, estão presentes em nosso dia a dia, a exemplo, mas se limitando: substituição de máquinas/motores, cabos de aço de tração ou fitas, de inversores de frequência, encoder’s. Tudo issoquando a falha não permitir a manobra da cabina. Até mesmo a troca de um simples fusível, que por vezes está disposto no espaço da maquinaria, pode se tornar uma operação complexa.  

Seria possível incorporar soluções de acesso ao espaço da maquinaria, que se recolhessem e acomodassem para o uso em operação normal e que atendesse os requisitos mínimos de proteção para o trabalho em altura da Norma Regulamentadora 35, ou apenas NR 35, viabilizando operações de manutenção mais rápidas e eficazes?

Creio que é o desejo de todos nós abraçar essa inovadora solução dos elevadores sem casa de máquinas, associadas a soluções tão inovadoras quanto para sua manutenção! Importante registrar que os elevadores atualmente instalados são extremamente seguros e viáveis, nosso desejo é proporcionar ao nosso segmento reflexões no sentido de sermos ainda melhores.

Sobre o autor

Marcelo Nascimento é Engenheiro Mecânico, pós graduando em Avaliações e Perícias de Engenharia e também Administrador de Empresas. Está no segmento de elevadores, mais especificamente atuando na Bahia, desde 1998. Começou na Elevadores SUR, que atualmente é TKE Elevator, onde ficou até 2010. Desde 2011 atua na Expel Elevadores, empresa regional que atua com transporte vertical (elevadores, acessibilidade, planos inclinados e teleféricos), onde é socio e responsável técnico. É presidente do SECIEB – Sindicato das empresas conservação e Instalação de Elevadores da Bahia. Atua também como consultor e perito, associado ao Instituto Brasileiro de Avaliações e Perícias de Engenharia (IBAPE/BA). Exerce à docência no curso para formação de síndicos profissionais da ACS FORMA, parceira da ACS Administração de Condomínios com o Grupo Educacional Unidom. Também é consultor do programa Cadê o Sindico no Radio, na Metrópole FM de Salvador/BA.

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