Elevadores: a segurança do transporte vertical em debate

Os elevadores desempenham um papel crucial na mobilidade urbana, especialmente em regiões de alta densidade populacional. Eles não apenas viabilizam o crescimento vertical das cidades, mas também promovem acessibilidade para pessoas com mobilidade reduzida, otimizam deslocamentos e contribuem para a eficiência dos edifícios modernos. No entanto, garantir a segurança desses equipamentos é essencial para evitar acidentes e preservar vidas.

Apesar de serem considerados um dos meios de transporte mais seguros, os dados recentes indicam uma real necessidade de melhoria no setor. Apesar da ausência de um repositório nacional, pesquisável, de acidentes com elevadores, uma busca pela internet por dados secundários possibilitou algumas estimativas do ano de 2024 no Brasil: foram registrados 58 acidentes envolvendo 108 pessoas, dos quais 40 resultaram em óbito. No final do mesmo ano, o número de mortes subiu para 46, evidenciando um aumento significativo, mesmo que estimado. Se os elevadores são projetados com altos padrões de segurança, por que esses acidentes continuam acontecendo?

Os principais fatores envolvidos em acidentes

Os elevadores são regidos por normas técnicas rigorosas, como a ABNT NBR 16858:2021, que substituiu a antiga ABNT NBR NM 207:1999, trazendo avanços em dispositivos de segurança. Entretanto, a falta de fiscalização efetiva e a negligência na aplicação dessas normas contribuem para falhas que podem ser fatais. Entre as principais causas dos acidentes, destacam-se:

  • Manutenção inadequada: falhas na inspeção periódica e na substituição de componentes críticos comprometem a segurança.
  • Desrespeito às normas técnicas: algumas empresas não seguem os padrões exigidos para projeto, instalação e modernização dos equipamentos.
  • Uso inadequado por parte dos usuários: práticas como excesso de peso e comportamento impróprio podem levar a falhas operacionais.
  • Fiscalização em profundidade: ainda poucos Conselhos Regionais de Engenharia e Agronomia (Creas) inserem em suas fiscalizações rotineiras o princípio da Profundidade Adequada, previsto na Resolução nº 1.134, de 2021 do Confea. Tal princípio estabelece que a fiscalização deve adentrar em aspectos qualitativos ou de natureza eminentemente técnica quando necessários à caracterização da infração por exorbitância de atribuições, acobertamento profissional, má conduta pública e falta ética.
  • Equipamentos obsoletos: muitos elevadores antigos ainda estão em operação sem adaptação às novas exigências tecnológicas.

 Medidas para reduzir os acidentes

Uma solução eficaz para minimizar esses riscos é a implementação de uma fiscalização mais rigorosa. A Associação Brasileira das Empresas de Elevadores (ABEEL) defende a criação de um marco legal que passaria a exigir a elaboração do Relatório de Inspeção Anual (RIA), que obrigaria todos os elevadores a passarem por vistorias periódicas, assegurando não apenas o cumprimento das normas de segurança, como também a efetiva realização das rotinas de manutenção necessária.

A Importância da atuação do Crea e da sociedade

A segurança nos elevadores não depende apenas das empresas fabricantes e mantenedoras, mas também da sociedade e dos Conselhos Regionais de Engenharia e Agronomia (Creas). Algumas medidas que podem ser adotadas incluem:

  • Campanhas educativas sobre a importância da manutenção preventiva e do uso adequado dos elevadores.
  • Criação de legislações municipais e estaduais que exijam inspeções periódicas obrigatórias.
  • Aprimoramento da fiscalização profissional para garantir que os serviços de manutenção, principalmente as atividades de supervisão e coordenação, sejam realizados por profissionais de nível superior legalmente habilitados no Sistema Confea/Crea.
  • Parcerias entre Creas e órgãos governamentais para estabelecer um padrão de fiscalização que torne os quesitos de segurança mais rigorosos.

 A necessidade de modernização e integração tecnológica

Com o avanço tecnológico, a segurança dos elevadores também está passando por transformações. A adoção de sistemas inteligentes, como monitoramento remoto via Internet das Coisas (IoT), possibilita a detecção de falhas em tempo real e a prevenção de acidentes. Assim, torna-se essencial a atuação conjunta e multidisciplinar na instalação e na supervisão desses sistemas.

Segurança e qualidade nos elevadores são compromisso e inovação da ABNT

Todos os dias, milhões de pessoas confiam nos elevadores para sua locomoção. Mas será que todos os equipamentos atendem aos mais altos padrões de segurança? Essa questão reforça a importância de normas técnicas bem definidas e rigorosamente aplicadas. Para garantir um padrão elevado de confiabilidade, a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) tem aprimorado continuamente suas diretrizes para fabricação, instalação e manutenção desses equipamentos. A recente atualização das normas reflete um compromisso contínuo com a modernização do setor e a proteção dos usuários.

A implementação do Programa de Certificação de Elevadores representa um avanço significativo, estabelecendo critérios rigorosos de avaliação com base nas normas técnicas mais atualizadas. Essa certificação assegura que os elevadores atendam aos mais altos padrões de segurança e eficiência, reduzindo riscos e promovendo maior confiabilidade para fabricantes, administradores prediais e, principalmente, para os usuários. Com as novas diretrizes, as normas brasileiras se alinham a padrões internacionais, trazendo benefícios que vão desde o aprimoramento da qualidade do transporte vertical até a otimização de processos de manutenção e inspeção.

Nos últimos anos, a certificação tem se consolidado como um diferencial para empresas que priorizam a segurança e a conformidade regulatória. O compromisso com normas técnicas reconhecidas fortalece a transparência do setor e amplia a confiança do público. A certificação reforça a confiabilidade dos elevadores e demonstra o compromisso das empresas com a segurança, minimizando riscos de falhas e acidentes. Além disso, garante que os equipamentos atendam aos padrões técnicos mais exigentes, fortalecendo a reputação de marcas comprometidas com qualidade e inovação. A modernização dos requisitos de segurança inclui inovações como sistemas de controle de velocidade, dispositivos de retenção e aprimoramentos nos mecanismos de frenagem, garantindo um transporte mais estável e confiável para todos.

A evolução tecnológica do setor tem exigido adaptação e inovação por parte dos fabricantes. A adesão às normas técnicas da ABNT se tornou um selo de qualidade que diferencia empresas que realmente prezam pela segurança e eficiência operacional. A nova norma, por exemplo, estabelece padrões mais rigorosos para iluminação de emergência dentro das cabinas, aumenta a resistência estrutural de componentes e aprimora os protocolos de inspeção antes da entrada em operação. O requisito de controle da sobrevelocidade da cabina ascendente, por exemplo, representa um grande avanço na segurança, impedindo que falhas mecânicas possam comprometer a integridade dos passageiros. Essas mudanças garantem maior confiabilidade e reduzem a necessidade de intervenções corretivas inesperadas.

Empresas que priorizam a segurança e a inovação já estão adotando essas diretrizes, acompanhando uma tendência global de modernização e padronização dos elevadores para garantir maior confiabilidade e eficiência. Para os milhões de usuários diários, essas normas garantem viagens mais seguras e confortáveis, reduzindo riscos invisíveis, mas cruciais. Quem ainda não se alinhou às novas normas corre o risco de ficar para trás em um mercado cada vez mais exigente.

Conclusão

Garantir a segurança dos elevadores no Brasil requer um esforço conjunto entre empresas, profissionais da engenharia, sociedade e órgãos reguladores. A implementação de inspeções obrigatórias, a modernização de equipamentos antigos, a fim de incorporar novas tecnologias de segurança e conforto, e a ampliação das competências técnicas para acompanhar os avanços tecnológicos são medidas fundamentais para reduzir o número de acidentes e tornar os elevadores ainda mais seguros.

Desde sua fundação, a ABNT tem atuado para auxiliar as empresas na implementação de boas práticas, garantindo padrões elevados de segurança e qualidade. Seu papel vai além do território nacional, influenciando normativas internacionais e consolidando o Brasil como referência em regulamentação de elevadores. A entidade reforça seu compromisso em estabelecer diretrizes que impulsionam a segurança e a qualidade no setor, promovendo um ambiente regulatório sólido que beneficia tanto as empresas quanto os usuários. O caminho para um futuro mais seguro e eficiente no transporte vertical começa com o compromisso com a qualidade e a segurança. E esse compromisso se traduz na certificação.

Fontes consultadas

SOBRE OS AUTORES

Mário Willian Esper é Doutor Honoris causa pelo Centro Universitário Dinâmica das Cataratas – UDC, Mestre em Engenharia Civil pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, Engenheiro Civil, Presidente do Conselho Deliberativo da Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT, Presidente da Associação Mercosul e Diretor Titular Adjunto do Departamento da Indústria da Construção Civil da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo – FIESP, Membro do Conselho Superior do Meio Ambiente e Sustentabilidade da Confederação Nacional da Indústria – CNI e Membro do grupo curador do Fundo de Desenvolvimento Social – FDS do Ministério do Desenvolvimento Regional.

 Gutemberg Rios é formado em Engenharia Mecânica pela Universidade de Brasília (UnB). Profissional com 21 anos de experiência e passagem por conglomerados empresariais, multinacionais e empresas de grande porte atuando tanto na área técnica como na área de gestão. Atuou como engenheiro responsável por implantações, reformas, ampliações, expansões e manutenção de equipamentos e instalações de grande porte no Brasil, e atua em Gestão de Ativos aliada ao diagnóstico com proposição de melhorias de Instalações e Edificações, principalmente sob a ótica da ABNT ISO 55000. Foi Diretor do Crea-DF (Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Distrito Federal) e foi Presidente da Abemec-DF (Associação Brasileira de Engenheiros Mecânicos, seção DF). Atualmente, é Conselheiro Federal e Diretor do Confea (Conselho Federal de Engenharia e Agronomia). Apresentador do Engenharia & Prosa. ART Registrada junto ao CREA-DF: 0720250016149.

Plynio José Pereira é formado em Engenharia Mecânica pela Universidade Paulista (Unip), em 2016. Possui 12 anos de experiência com projetos mecânicos, fabricação de máquinas e implantação de sistema ERP. Diretor de Engenharia na ATI Elevadores e Diretor Técnico da ABEEL (Associação Brasileira das Empresas de Elevadores). ART Registrada junto ao CREA-GO: 1020250054842.

 Igor Fernandes é formado em Engenharia Mecânica pela Universidade de Brasília (UnB). Foi Engenheiro Mecânico da empresa Engevix, cedido para Eletronorte, atuou nas Usinas Hidrelétricas de Tucuruí II, Samuel e Ferreira Gomes e UTE Rio Madeira. Ocupa o cargo de Analista – Engenheiro Mecânico de carreira do Conselho Federal de Engenharia e Agronomia (Confea). Atualmente, é Gerente da Gerência de Relação com o Profissional e Fiscalização (GPF) do Confea.

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