Acidentes em elevadores no Brasil em 2024: Uma notícia triste e um alerta para a segurança
Os acidentes com elevadores vêm em uma crescente nos últimos anos. No ano de 2023, entre o mês de janeiro e início de agosto, foram 20 acidentes noticiados pela mídia, com 46 pessoas envolvidas e sete mortes. Nesse mesmo período, agora em 2024, já somamos 31 acidentes, com 69 pessoas envolvidas e 22 mortes. A triste notícia é que esse número deve aumentar até o final do ano. Abaixo, esbocei um gráfico dessa comparação:
POR QUE ESTÃO OCORRENDO TANTOS ACIDENTES ANO APÓS ANO?
Nesses meus 14 anos de experiência na área, com passagens pelas três maiores multinacionais de elevadores, escadas e esteiras rolantes e agora, com a minha empresa de engenharia voltada para projetos e vistorias independentes, já vi de tudo nesse mercado (confesso que a cada dia me surpreendo mais). Aqui, deixo os principais pontos pela minha experiência e opinião, que talvez vá de encontro com a maioria dos profissionais dessa área:
Prostituição de preço: o preço se tornou a principal escolha de condomínios e construtoras. Hoje, o fator determinante é o preço da manutenção. Infelizmente, a maioria das pessoas coloca o preço acima da segurança. Isso também se aplica aos órgãos públicos, que, por meio de licitações, acabam escolhendo a proposta de menor custo.
Empresas irregulares: existem, no mercado, diversas empresas que nem sequer possuem registro no CREA, e são essas empresas que entram no mercado com preços muito baixos. “Mas, Carlos, tenho que pensar na economia do condomínio”, essa é a justificativa que a maioria usa. Uma manutenção de um equipamento que transporta vidas, com preços de R$ 80,00 a R$ 150,00 reais mensais é INADMISSÍVEL, visto que empresas sérias, nacionais e multinacionais têm custos com materiais de manutenção, EPIs dos funcionários, lubrificantes, entre outros. Você acredita que a manutenção será realizada conforme um bom plano de manutenção anual? Jamais.
Quantidade elevada de equipamentos por técnico: com a prostituição do mercado e a presença de empresas irregulares, as empresas que antes eram confiáveis precisam elaborar um plano de ação para não perder clientes. Uma dessas ações é aumentar a quantidade de elevadores que um técnico realiza manutenção, a fim de reduzir o preço. O resultado: a qualidade da manutenção cai, pois o técnico não conseguirá dar conta de tantos equipamentos. Isso, a médio e longo prazo, reflete na segurança.
Aventureiros do mercado: com clientes procurando preço, começam a surgir empresas aventureiras, geralmente serralheiros que produzem elevadores caseiros, colocando a vida de várias pessoas em risco. Para piorar, essas empresas não oferecem manutenção. Com isso, esse equipamento irregular vai para o mercado e as empresas que já enfrentam problemas com os preços acabam aceitando realizar a manutenção, preocupando-se apenas com o número da carteira, “a segurança a gente vê depois”.
Falta de fiscalização: Infelizmente, os fiscais não possuem o conhecimento necessário para realizar a fiscalização adequadamente, devido à falta de treinamentos específicos para esses profissionais, além da quantidade ser insuficiente. Isso sem mencionar, é claro, as situações de corrupção.
Engenheiros sem conhecimento: Infelizmente, uma grande maioria dos profissionais dessa área realiza projetos sem elaborar os memoriais de cálculo previstos nas normativas. Copiam projetos acreditando que o equipamento é o mesmo, e esse é o maior problema relacionado a elevadores que “caem”. O freio de segurança pode até atuar, mas ocorre flambagem devido a erros de cálculo. Além disso, há outra parcela de engenheiros que apenas “assina” a ART, sem se preocupar se o equipamento está em boas condições e seguro.
Enquanto todos nós aceitarmos o que vem acontecendo no mercado, continuaremos tendo diversos acidentes, ceifando vidas que podem ser as nossas ou de nossos familiares e amigos amanhã. Fica a reflexão.
Abaixo, deixei um QR Code deste artigo com a lista dos acidentes que ocorreram até o início de agosto desse ano. Estão separados por mês, com os links clicáveis das matérias que foram divulgadas na mídia.
SOBRE O AUTOR
Carlos Eduardo é proprietário da ON Soluções em Engenharia, Engenheiro Mecânico, Engenheiro de Segurança do Trabalho, Mestrando em Engenharia de Desenvolvimento Sustentável pela UFES (Universidade Federal do Espírito Santo) e Técnico em Mecânica e Eletrônica. Tem 14 anos de experiência na área de transportes verticais, na qual, trabalhou nas três maiores fabricantes de elevadores e escadas/esteiras rolantes do mundo. Em 2024, se tornou Top Voice do LinkedIn, que leva conteúdos na área de transportes verticais. Também é membro do Comitê Nacional da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas), de estudos, atualizações e revisões de normas técnicas pertinentes a Cabos de Aços, Elevadores, Plataformas de Acessibilidade, Escadas e Esteiras Rolantes.