Qualidade da mão de obra no segmento de transporte vertical

 

Why is Team Training Important in Finance?

Treinamento da equipe é a única alternativa para enfrentar a falta de qualidade da mão-de-obra do setor

Dentre diversas dificuldades enfrentadas pelo segmento de elevador, duas estão no topo das discussões de qualquer encontro, reunião, evento ou fórum. A primeira tem relação aos baixos preços praticados pelo mercado, o que tem levado muitas empresas a entrarem em um ciclo vicioso, que é fomentado por cortar custos de atividades que afetam a operação. A segunda reclamação – que está diretamente relacionada a primeira – é a baixa qualificação da mão-de-obra, tanto da equipe técnica quanto da área comercial.

O ponto principal é que a qualidade dos serviços e o valor financeiro de uma empresa prestadora de serviço no segmento de elevador são proporcionalmente impulsionados pela qualificação técnica e comportamental da mão-de-obra. Isto é, uma empresa conservadora que não consegue atrair talentos ou deixa de investir na qualificação de seus colaboradores tem grandes chances de colocar tudo a perder.

Um negócio que atua com prestação de serviço tem seus colaboradores como principal insumo da atividade. Isso vale tanto para profissionais que atuam diretamente no sistema elevador (técnicos, engenheiros entre outros), quanto para quem está na retaguarda dando sustentação para a equipe de campo (recursos humanos, mesa de chamado, comercial, marketing, logística, almoxarifado etc).

Nos últimos anos, temos visto a deterioração dos valores de contrato de manutenção de elevadores. Para além de um ajuste de mercado, que é sempre bem-vindo, pautado em avanços tecnológicos que permitam a redução de custos, a verdade é que a pressão por mensalidades mais baixas chegou a patamares perigosos. Ao fazer o cálculo financeiro dos custos básicos de uma empresa de elevador, chega-se à conclusão de que muitos empresários não rentabilizam o mínimo para manter a estrutura necessária. Com essa realidade afetando o segmento em todas as cidades brasileiras, o ciclo vicioso está instalado.

Não precisa ser especialista em finanças para entender que valores praticados por algumas conservadoras para fazer manutenção são tão baixos que irão gerar problemas, tanto para a empresa que aceita receber esse valor, quanto para o síndico que aceitou pagar. Malabarismos e acrobacias serão necessários para atender as atividades básicas das visitas mensais que são exigidas por legislação em muitos municípios brasileiros.

O ciclo vicioso destrutivo acaba se instalando:

“Se não rentabilizo de forma adequada, não consigo contratar mão-de-obra qualificada que exige melhor salário. Se não tenho colaborador capacitado, não consigo melhorar a qualidade do meu serviço, porque realizo o mínimo exigido. Se o cliente não vê valor na prestação de serviço, não aceita pagar mais. E por final, se não melhoro o valor dos serviços prestados, não tenho como investir na especialização da mão-de-obra.”

Isso sem falar em outros cortes – como o não pagamento de taxas e impostos, insumos, ferramentas, equipamentos de segurança etc – que prejudicam não só o resultado do serviço, mas também o interesse de profissionais qualificados em atuar no segmento de elevador.

Com o aquecimento da economia, quando diminuem os índices de desemprego do Brasil, os melhores profissionais acabam migrando para outros segmentos de mercado porque enxergam melhores salários, mais oportunidades de desenvolvimento de carreira e até melhores condições de realizar o seu trabalho.

Resultado dessa realidade: estamos em mais um momento crítico que está exigindo iniciativas corajosas que quebrem esse ciclo. Afinal, esse contexto é prejudicial para todos os envolvidos: o empresário: que corre sérios riscos de quebrar. Para o colaborador: que tem baixos salários e uma precarização do ambiente de trabalho. E, principalmente para o cliente: que pensa estar sendo beneficiado em pagar pouco e, na verdade, está colocando os condôminos em risco.

Lembrando que o síndico é responsável cível (e até criminalmente) por tudo que acontece dentro do condomínio, principalmente acidentes que registrem vítimas.

É POSSÍVEL QUEBRAR ESSE CICLO DESTRUTIVO?

É possível, com toda certeza! No entanto, para que isso aconteça é fundamental que todos os envolvidos se mobilizem para quebrar um ciclo tão prejudicial e destrutivo. Enquanto houver empresas e síndicos dispostos a colocar em risco a vida dos profissionais que trabalham com elevadores e dos usuários, o ciclo se manterá ativo.

Portanto, o mais importante é o investimento na carreira dos profissionais do segmento de transporte vertical. Transformar as funções das empresas em atividades atrativas é urgente. E para isso, é fundamental que haja definição de cargos e funções, planos de carreira transparentes e grades de treinamentos que contribuirão que esses profissionais estejam preparados. Com a valorização do profissional, a empresa passará a oferecer melhores serviços, criando a oportunidade de um novo posicionamento em que os valores cobrados se tornam mais justos e adequados.

POR ONDE COMEÇAR?

Para quebrar o ciclo vicioso destrutivo e iniciar uma jornada virtuosa é fundamental que a empresa adote uma postura de fortalecimento da sua mão-de-obra. Para isso, o ideal é seguir esses 6 passos:

  1. Mapeamento da equipe: implante um processo de mapeamento das forças e fraquezas de cada colaboradores e crie um plano de desenvolvimento em que o funcionário se sinta engajado em se autodesenvolver.
  2. Plano de desenvolvimento: o plano de desenvolvimento deve ser anual, com revisões trimestrais, definindo quais serão os pontos a serem desenvolvidos, como será feito o processo e em qual o prazo. Além de cursos e treinamentos formais, inclua também leituras, vídeos e séries.
  3. Desenvolvimento comportamental: invista no desenvolvimento das habilidades comportamentais, principalmente em treinamentos baseados em inteligência emocional. Esses conhecimentos devem fazer parte do plano de desenvolvimento.
  4. Feedbacks formais: crie momentos específicos para feedbacks formais, oferecendo informações sobre o desenvolvimento do colaborador. Inclua citações de eventos em que a observação foi feita, dando clareza para os comentários.
  5. Programa de mentoria: incentive que colaboradores mais experientes se tornem mentores dos mais jovens. Ajude a criar um programa de mentoria, com sessões frequentes em que a troca será baseada na experiência profissional e também pessoal.
  6. Plano de carreira: discuta individualmente com seus colaboradores quais são as expectativas da empresa, dos funcionários e da liderança. Ofereça incentivos (não apenas financeiros) para profissionais que estejam empenhados em crescer junto com a empresa.

Como vimos, uma prestadora de serviço tem como principal insumo a mão-de-obra que executa as atividades. Quando essa perspectiva se perde, os valores cobrados também são puxados para baixo. Por isso, a única alternativa para quebrar esse ciclo que vem se formando faz anos é focar nas pessoas que fazem esse setor rodar.

Por mais que a tecnologia evolua, a manutenção dos equipamentos e o atendimento aos clientes são realizados por pessoas. E essas pessoas precisam ser valorizadas, tanto com salários adequados como com perspectiva de futuro. Esse movimento precisa ser iniciado pelo segmento de transporte vertical. Reclamar não fará com que os clientes iniciem o processo de reversão dessa tendência.

SOBRE A AUTORA

C:\Users\Jullyana\Desktop\REVISTA 183\ARTIGO KATIA\FotoPerfil_183.png

Kátia Marim Treviso é jornalista, especializada em marketing e idealizadora do Canal Conversa de Elevador. Com mais de 25 anos de experiência no setor de elevadores, atua como desenvolvedora de treinamentos, mentora e consultora empresarial.

 

INSCREVA-SE NA NOSSA NEWSLETTER

- Publicidade -spot_img

ÚLTIMA EDIÇÃO REVISTA

spot_img

ÚLTIMAS MATÉRIAS