Onde estão os profissionais do mercado?
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A escassez crescente de técnicos qualificados para manutenção e instalação de elevadores é um desafio que ameaça diretamente a segurança e acessibilidade de muitos edifícios. Mas o que está por trás dessa crise? Quais fatores explicam o desaparecimento desses profissionais ou sua atuação insatisfatória?
Um ponto inicial é a falta de uma cultura sólida no segmento. Além disso, a formação técnica disponível é frequentemente inadequada — ou até inexistente — para atender à demanda do mercado. No Brasil, estima-se que há cerca de 500 mil elevadores em operação, de acordo com o CREA. Esse número não apenas reflete o crescimento do setor, mas também evidencia a relevância do serviço para a segurança e a mobilidade. No entanto, faltam certificações e programas de qualificação amplamente difundidos que acompanhem essa expansão.
Surge, assim, um paradoxo: apesar das oportunidades nas áreas de montagem, modernização, e manutenção preventiva e corretiva, o setor carece de visibilidade e incentivos à qualificação técnica. A criação de cursos especializados, ou até de uma graduação específica, poderia mudar esse cenário, trazendo ao mercado profissionais mais bem preparados para lidar com as exigências normativas, técnicas e éticas da profissão.
A falta de capacitação
A ausência de programas formais de educação voltados para elevadores afeta não só a qualidade dos serviços, mas também a visão de pertencimento dos profissionais. Imagine o impacto positivo de um curso técnico ou de uma graduação específica na área. Currículos que integrem desde ética e segurança até técnicas mecânicas e tecnológicas avançadas poderiam formar profissionais conscientes da importância de seu papel na cadeia de acessibilidade e segurança urbana.
Hoje, porém, poucos estados possuem regulamentação eficaz para fiscalizar a atuação das empresas de elevadores. Essa deficiência permite que práticas inadequadas prosperem, comprometendo a qualidade dos serviços e a segurança dos usuários.
Impacto cultural
A questão cultural é outro aspecto crítico, embora muitas vezes subestimado. Ao longo dos meus 11 anos de experiência no setor, tenho observado que muitos técnicos trazem vícios de antigas empresas, sejam elas pequenas prestadoras ou grandes multinacionais. Falta-lhes um senso profundo de segurança, excelência e prudência — valores indispensáveis para esta área. Muitos enxergam o trabalho como um simples meio de sustento, sem compreender a importância do que fazem para a mobilidade e a acessibilidade da sociedade.
Esse comportamento reflete uma carência de treinamento cultural nas empresas. O aprendizado oferecido é muitas vezes mecânico e limitado, sem transmitir a verdadeira relevância da função. Isso gera um ciclo de alta rotatividade, em que profissionais migram de empresa em empresa, aproveitando a escassez de mão de obra, mas sem um real comprometimento com uma cultura de excelência e segurança.
O que fazer?
Superar esses desafios exige a construção de uma cultura forte e treinamentos bem estruturados. As empresas precisam assumir um papel mais ativo na capacitação de seus colaboradores, transmitindo desde o início valores de segurança, qualidade e compromisso com a acessibilidade. Além disso, é fundamental que o setor seja mais bem regulamentado e que sejam criados programas de educação técnica específicos.
A transformação só ocorrerá quando todos os agentes do setor — empresas, técnicos e órgãos reguladores — entenderem a importância de uma abordagem integrada. Não basta contratar mais técnicos; é essencial formar profissionais comprometidos com a excelência e a segurança, garantindo que o serviço prestado atenda às expectativas do mercado e avance junto com as necessidades da construção civil.
Como empresa atuante no segmento, assumo o compromisso de contribuir para essa mudança. Acreditamos que, por meio de treinamentos contínuos e ações práticas, é possível promover uma cultura de segurança e excelência. Com um esforço conjunto e exemplos consistentes, o setor poderá evoluir para atender cada vez melhor às demandas de mobilidade e acessibilidade.
Que nosso mercado receba maior atenção das instituições de ensino, para que, num futuro próximo, possamos contar com graduações e cursos especializados. Dessa forma, não apenas elevaremos a qualidade dos serviços prestados, mas também traremos reconhecimento e valorização a essa profissão essencial para a segurança e acessibilidade da nossa sociedade.
SOBRE A AUTORA
Alyne de Souza Ruwer é fundadora e sócia da Elevesul Elevadores, Graduada em Processos Gerencias e com MBA em Gerenciamento de Marketing. Atua na área de elevadores há 11 anos, tendo iniciado sua carreira em uma fabricante nacional de elevadores em 2013. Em 2016, fundou a Elevesul Manutenções, que em 2024, se transformou em Elevesul Elevadores. Hoje, atua na aérea comercial, na capacitação de equipe técnica e como palestrante e colaboradora em alguns projetos do mercado Condominial.